segunda-feira, 13 de junho de 2016

Minha experiência trabalhando na Disney - part 2, IPG

Como comecei a contar no post anterior, trabalhei na Disney duas vezes, e a segunda foi no programa International Park Greeter, conhecido pelos íntimos como Super Greeter. Esse programa acontece durante as férias americanas do meio do ano, o verão deles, e é atualmente exclusivo para brasileiros. A função que todos os participantes exercem são praticamente as mesmas, sendo a work location deles hotel, parque ou Disney Springs: ajudar em qualquer coisa que envolvam os grupos turísticos latino americanos. Falo assim porque se você acha que terá que lidar só com os brasileiros, está muito enganado. Muitos grupos que falam espanhol, em sua maior parte argentinos, passam por lá também nessa época, e os super greeters tem que lidar com eles também. Portanto, se você não sabe espanhol e pretende participar, aconselho ir treinando o básico.

 
No meu programa, de 2015, fiz parte da equipe do EPCOT. Éramos 12 cabeças, de várias partes do Brasil. Nós fazíamos muito a logística com os grupos na chegada deles, na hora do almoço, e em alguns brinquedos, em especial no Test Track, Mission Space e Soarin'. Fazíamos também suporte para os PACs durante o show noturno IllumiNations Reflections of Earth. O nosso trabalho era diretamente ligado aos cast members de cada local, exemplo os restaurantes Electric Umbrella e Sunshine Seasons, assim como em colaboração com os guest relations do parque, quando o auxílio para a resolução de problemas era solicitado. Nós estávamos ali principalmente pelos grupos, mas ajudávamos todo e qualquer guest, incluindo famílias brasileiras.
 

A barreira da língua é enorme, então com os grupos na hora do almoço, o trabalho em grupo de mais de um greeter no restaurante é imprescindível, quando a organização do grupo na área para atrapalhar o mínimo possível a rotina do lugar, e a ajuda nos pedidos e agilização do processo era necessária. O staff de um restaurante está acostumado com o rush do almoço, mas 100 pessoas vindo de uma vez só no restaurante pode ser um transtorno, por isso essa informação, entre outras, é adquirida dos próprios grupos por greeters de manhã, na entrada, e passada para as áreas, como os managers dos restaurantes. Dessa forma, eles já pré-adequam as cozinhas para a demanda esperada, fazendo do processo de passagem dos grupos o mais suave possível.
 

Dentro de brinquedos, a presença de um greeter também é importante. Levando o exemplo do Test Track. Esse é um brinquedo que possui 3 tipos de fila, a Stand By, Fast Pass e Single Rider. Grupos normalmente escolhem uma das duas primeiras, o que implica que todos irão juntos, com carros levando somente integrantes desse grupo, o que faz a passagem dele muito mais rápida e fluida. Porém, alguns escolhiam a terceira opção, por motivos bem comuns gerados pelas burocracias do sistema de Fast Pass do EPCOT. O problema é que, ao escolher a fila single rider, o guest aceita a premonição de que, mesmo que ele esteja acompanhado, não irá junto dos amigos no brinquedo, já que essa fila é utilizada nos brinquedos de maior procura para atender o maior número de guests por carrinho, ocupando os buracos que ´grupos de menos de 6 guests (como era a configuração do Test Track) deixavam. Mas você acha mesmo que adolescentes indo pela primeira vez a Disney querem passar por isso? Querem ir separados de seus amigos de infância feitos 3 dias atrás? Claro que a resposta é não. Ainda mais quando eles chegam no loading (parte do brinquedo em que o guest é colocado no carrinho por um cast member) e veem que, em 75% dos casos, 2 pessoas da fila single rider vão em cada carro, já que a maioria dos grupos da fila comum são de 4 pessoas, ou um número que leve a 4 irem no carro, duas na frente e duas atrás. A ordem natural são eles se separarem em duplas. Porém, os outros 25% dos casos, as pessoas vão sozinhas, ou em 3 para ocupar os espaços do carro. E o que acontece? Eles grudam feito siameses no coleguinha e acabam atrapalhando o andamento do processo. Um greeter ali ajuda a resolver rapidamente esse e outros tipos de problemas, organizando a fila desde a entrada deles nela, e agilizando o loading também, quando até a direção de quantas pessoas em qual fileira em dada em inglês pode ser de difícil compreensão. Nessa hora, a parceria com o CM do brinquedo é vital.
 
Como é natural dos relacionamentos interpessoais, alguns amavam a nossa presença, interpretando-a como um presente divino, já outros não gostavam que interferíssemos no trabalho deles. É difícil de acreditar, mas é a mais pura verdade. Se você imagina que os maiores problemas serão os participantes dos grupos, ou os guias, pense de novo. Muitos guias já até sabem da nossa existência, ou até já estiveram no nosso lugar, e sabem que é bom tanto pra eles quanto para nós a existência da cooperação. Já alguns CMs mais antigos sentem muito orgulho no que fazem, e não gostam da interferência externa, mesmo que só o que você quer é ajudar. Tudo o que podemos fazer é manter nossa posição na área e ficar de stand-by, porque pode acontecer, e acontece muito, desse tipo de pessoa mudar de ideia.
 
Em termos de horas de trabalho, nesse programa os seus horários tendem a ser sempre os mesmos, do ínicio ao fim. Fazer hora extra não é muito fácil, somente no caso de abertura de horas para PAC (parade assistance) em parques como Magic Kingdom ou Hollywood Studios. Mas isso geralmente só é permitido parasse você trabalha em um lugar, como um parque aquático por exemplo, que te oferece menos de 40 horas semanais, mais pra perto de 30 horas. Daí, para completar seu horário, é possível pegar essas goras extras. Isso acontece porque depois de 40 horas, a hora que você faz é extra, contada como 1,5x do valor que você ganharia na hora normal. Por motivos de planejamento e demanda, quem já tem 40 horas normalmente não pode fazer mais. O máximo que é possível é fazer uma troca de um dia de trabalho seu com mesmo número de horas de um colega, desde que ele trabalhe no mesmo lugar que você. Com isso, você pode ajustar seus dias de folga, de acordo com o que você quer. Os horários também são feitos, normalmente, no modelo cascata, ou seja, eles organizam para você ter o maior tempo de folga possível, saindo no horário mais cedo quando no dia seguinte está entrando na folga, e entrando no mais tarde quando você está saindo dela. Em cada tipo de horário, você tem uma gama de funções a fazer em cada sessão, seja ajudar na abertura e do recolhimento das informações de cada grupo (quantidade de pessoas e guias, onde e quando almoçam, se tem fast pass ou se mudarão de parque durante o dia), ajudar de um restaurante ou outro, ficar pela World Showcase ou ajudar no IllumiNations e escoamento de público no fim do dia. Isso muda de local para local, mas geralmente é assim que funciona.
 
O treinamento do Super Greeter é bem parecido com alguém de attractions. Você passa pelo traditions, que todo CM passa, mesmo já tendo passado antes, e depois faz algumas aulas referentes a attractions e operations. Depois, você passa por alguns dias de Discovery Day do seu local, e mais uns 2 sobre a sua função, normalmente com pessoas da área da entrada (beijos Vivien e Justin s2). Mas você descobre mesmo, na prática, o que você faz quando vê o primeiro grupo entrando, ou indo almoçar, ou se direcionando para um brinquedo. Quando você está passando e vê um CM desesperado te olhar com aquela cara de "socorro", ou quando chamam no rádio por ajuda. Sim, cada greeter, normalmente, anda com um rádio que é para uso interno de comunicação entre greeters e entre os locais do parque e os greeters. Porque mesmo que haja um estudo e organização de onde a demanda geralmente é maior em cada parte do dia, grupos cismam em fugir a regra. O tempo todo. Por isso, o uso responsável deles é importante. No caso do EPCOT, tínhamos um canal próprio, onde nos comunicávamos em português um com o outro. Em outros locais, o canal era o comum de operações, onde toda e qualquer informação de operações é passada, em inglês, e no formato característico de fala radial, com códigos e maneirismos próprios.

 
Comum aos outros programas, a moradia é nos mesmos condomínios. O meu foi Chatham Square, diferente de no ICP. Mas também morei com outras 5 brasileiras, e o processo foi por meio do Dorms, o sistema onde você cadastra suas informações e preferencias de roomate, condomínio e tipo de apartamento. Não é muito certeiro, mas pelo menos a sua escolha de roomates é respeitada.
 

Assim como no ICP, e em qualquer outro programa, quem faz ele são as pessoas que você conhece, e os momentos que fazem juntos. Seja no trabalho, ou no dia de folga, aproveite. Não existe lugar ruim para cair para trabalhar, qualquer um tem suas vantagens e desvantagens, seja parque, hotel, parque aquático, ou Disney Springs. Não deixe que detalhes ou cansaço evitem que você aproveite as 10 semanas mais rápidas da sua vida.

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